Desço a rua, cumprimento os meus vizinhos, entro no
metropolitano, sorrio para a menina que está na bilheteira e digo-lhe ‘’ Bom
dia!’’. Preparo o meu psicológico para mais um dia invernoso e débil. No
metropolitano é só seres andantes, todos se cumprimentam sobre a pele rugosa
macia ao toque, é como se as esticasse todas num abrir e fechar de beijos, nestas
manhãs silentes e ruidosas, onde só se ouve uma mistura de vozes dóceis, é algo
tão necessário como o café quentinho a escorregar pela garganta gelada. No
despertar da manhã todos esticam o braço, todos cultivam o músculo da boca e
todos ficam mais aptos a enlaçar este novo dia. Os raios de sol incidem suavemente
sobre o meu rosto e fazem-no lentamente cintilar como as estrelas que pairam
ténues entre as esbranquiçadas leves nuvens , imóveis, tão encolhidas e
brilhantes que quase que me apetece pular sobre a lua até chegar ao céu e desapegar
uma. Podia também escalar pelas gotinhas que agilmente escapam do céu, mas isso
implicaria conceder uma dança ao vento com os meus cabelos. De regresso a casa,
opto por ir de comboio. Mal arranca, todos fecham os olhos e cobrem-se. Parecem
mortos embalados dentro de caixão abandonado ao sabor das marés. Eles entregam-se
completamente a esse espírito de sono profundo, mas rapidamente algo os puxa de
novo á vida. Todos se conhecem, e todos se unem por uma soneca pacífica ao sonido
das linhas por onde o comboio escorrega, e deixam que as suas raízes se
enraízem no áspero e pedregoso chão da terra com a assistência de uma moça
lágrima saudosa triste e amarga.
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