Um Passado Presente

Não há manhãs iguais, não há rostos semelhantes, mas existem corações simétricos que encaixam tão mutuamente que unem os seus corpos num só. Era o nosso caso. Sempre que estava contigo sentia-me tão protegida, tão intocável, tão amada, tão única, tão tua. Era por isso e por tudo mais que me apaixonava por ti todos os dias.
Adorava quando acordavas primeiro que eu e ficavas a observar-me enquanto dormia e a misturar fio a fio do meu cabelo, lentamente de modo a  não me acordar, e assim que vias que eu estava a acordar interrompias e apressadamente simulavas que estavas a dormir, só para que eu te acordasse com carícias daquelas, tão nossas, tão boas.
Alguma vez tentaste conjugar neste tempo? Eu já me habituei. É o tempo em que vivo. Um passado que é presente.
Um presente em que já não permanecemos lado a lado ligado a um passado que eu não esqueci.
Sei que devia ficar feliz por ti, contudo não fico e parte-me inteiramente o coração ver-te com outra pessoa. Destrói-me ver que te esqueceste de nós. Sou incapaz de te dizer que espero que sejas feliz com ela, porque não é isso que eu quero. Porém foste capaz de seguir em frente, e é por isso que te dou felicitações. Eu também o fiz à minha maneira.
Prevês porque é que me coloco de costas para ti nas poucas ocasiões que te encontro naquele café? Porque tenho esperança que percas o orgulho e que caminhes até mim, e me cubras os olhos, e que eu sinta novamente o calor das mãos que um dia já se entrelaçaram nas minhas, que eu cheirei novamente o aroma dos teus beijos que por vezes ainda revivo saudosamente, e que encostes os teus lábios nos meus ouvidos e digas ‘’ também te amo’’.
Evito cruzar-me com os nossos lugares, mas quando cruzo, é impossível não relembrar da maneira que já fui feliz ali. É impossível esquecer-me daquele simples degrau que já me ergueu até ti para te conseguir roubar um beijo.


Vou fazer as malas.                                              E fiz,mas nunca tive coragem de partir com elas.
Vou rasgar as nossas cartas.                                 E rasguei, mas escrevi letra a letra de novo.
Vou atirar a tua roupa pela janela                         E atirei, mas de seguida corri pelas escadas com                                                                                                               medo que alguém apanhasse alguma peça.
Vou apagar-te do meu coração de vez.                 Esta foi a única que nem sequer tentei, tive medo de                                                                                                             o perder também.





Talvez já devesse ter feito isto há mais tempo, mas a despedida custa sempre, e despedir-me de ti dói, e muito.




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