Tu ainda és Tu

Acendo lagrimante o cigarro, o último de hoje talvez. 
Ainda é cedo mas tento perder-me ingenuamente no tempo.
Suavemente observo as nossas fotos, as últimas que ainda protejo, contemplo-as detalhadamente. E apago-as fortemente.
Desejava apagar-te tão facilmente como as apago, mas não é realizável, e mesmo que fosse jamais possuiria ousadia para o fazer, para me esquecer de ti.
‘’ Se os beijos não acabam, as histórias também não.’’ Era a palavra-chave para escutar um conto de fadas narrado por ti, onde nós éramos as personagens principais que concebiam juras de
amor eterno. E eu permanecia, com a cabeça ténue no teu peito cálido, presa a ti e por ti, enquanto tu me misturavas calmamente o cabelo e me embalavas na melodia da tua voz amena.
Por momentos disfarçava que já permanecia a dormir só para escutar aquelas promessas que desprendias tão maravilhosas que me cativavam.
Desejava já não te amar no escuro do silencioso deste ruidoso quarto, mas não estou pronta. Não tenciono deixar-te sair de mim. Mesmo sem tu estares eu ainda te sinto aqui. E é essa presença que me faz acreditar nisto, no amor.
Adorava todas as vezes que tu me tentavas fazer surpresas e eu fazia de tudo para te persuadir.
Adorava poder saltar velozmente para o teu colo gelado e tu agarrares-me sempre e beijares-me gradualmente, petiscando cada entrelaçar.
Adorava e adoro, porque os meus sentimentos ainda são presentes, tal como tu ainda és.



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